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Bossa nova no Carnegie Hall
Em novo livro, Roberto Menescal revela bastidores da 1ª apresentação dos bossa-novistas nos EUA
texto Itamar Dantas

Capa do livro Essa Tal de Bossa Nova e plateia no Carnegie Hall, em 1962. Fotos: divulgação/Revista Cruzeiro
No dia 21 de novembro completam-se 50 anos de um dos shows mais representativos do estabelecimento da bossa nova nos Estados Unidos. Em 1962, mais de 3 mil pessoas compareceram ao Carnegie Hall, em Nova York, para assistir às apresentações de Tom Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, Carmen Costa e de inúmeros outros artistas brasileiros que encabeçavam o então novo gênero musical brasileiro.
Em homenagem à data, e também ao aniversário de 75 anos de Roberto Menescal (completados em 25 de outubro), a editora Prumo lança o livro Essa Tal de Bossa Nova, uma reunião de memórias de Roberto Menescal conduzidas pela escritora Bruna Fonte que englobam histórias sobre a apresentação do Carnegie Hall, além de outros bastidores do estilo e da música brasileira dos quais Menescal foi protagonista.
Bruna Fonte já havia trabalhado com o compositor em outro livro, O Barquinho Vai… Roberto Menescal e suas Histórias, publicado pela editora Vitale em 2010. E foi a partir das conversas que teve com o músico para a elaboração do primeiro trabalho que surgiu a ideia de lançar um segundo projeto, desta vez com abordagem mais ampla, sem se prender à figura central do compositor de “O Barquinho”. “Essa Tal de Bossa Nova é um livro em que Menescal não é apresentado ao leitor como personagem principal – como era no primeiro livro –, mas como um narrador que conta diversas histórias que se dividem entre memórias da bossa nova, bastidores da MPB e a Sociedade Alternativa de Raul Seixas e Paulo Coelho”, conta a autora.
Discos voadores e a Sociedade Alternativa
Foi no VII Festival da Canção, em 1972, que Menescal e Raul Seixas se conheceram. Menescal era diretor musical da gravadora Polygram e reconheceu o potencial de sucesso do artista, com sua irreverência e rock and roll. No livro, Bruna Fonte revela histórias dessa parceria. “A importância do Menescal na carreira do Raul se deu no momento em que Menescal percebeu nele o potencial para trazer algo muito novo para a música brasileira e apostou em sua carreira, contratando-o.
Em entrevista ao Álbum, Bruna Fonte conta um pouco do novo livro, que tem lançamento previsto para o dia 27 de novembro na FNAC Pinheiros, em São Paulo.
ÁLBUM – O que muda entre seu primeiro livro com Menescal e este segundo?
BRUNA FONTE – Há cinco anos iniciei o meu trabalho com Roberto Menescal, que resultou no livro O Barquinho Vai… Roberto Menescal e suas Histórias. Após o lançamento desse primeiro trabalho, novas histórias e casos da música brasileira começaram a surgir em nossas conversas, o que me levou à ideia de reuni-los – junto a algumas histórias que haviam “sobrado” do livro anterior – em um novo título. Aproveitando a comemoração do show no Carnegie Hall, compilei também uma série de passagens relacionadas à viagem para Nova York, na qual, inclusive, terminou a amizade entre Roberto Menescal e João Gilberto.
Quais foram os frutos da parceria entre Menescal e Raul Seixas?
Menescal conheceu Raul numa coletiva de imprensa do VII Festival da Canção, em 1972. Na época, Menescal já era diretor musical da Polygram e Raul Seixas ainda era praticamente um ilustre desconhecido do público. Trabalhava como produtor na CBS, mas naquele ano estava concorrendo no Festival da Canção com duas músicas: “Eu Sou Eu, Nicuri É o Diabo” e “Let Me Sing, Let Me Sing”. No ano seguinte, Menescal produziu o primeiro long-play solo e autoral do Raul, Krig-ha, Bandolo!, que marcava o início da parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho e trazia músicas que se tornariam sucessos eternos da música brasileira, como “Ouro de Tolo” e “Metamorfose Ambulante”. No livro, o leitor encontrará passagens muito interessantes relacionadas ao trio, principalmente sobre a Sociedade Alternativa, que no início Menescal temia que estivesse relacionada à magia negra.
Há alguma história curiosa narrada no livro que você queira destacar?
Estamos numa época em que as pessoas querem saber histórias relacionadas à ditadura e à censura, então incluí no livro algumas relacionadas a este capítulo sombrio do Brasil. Dentro desse tema, destaco uma ocasião na qual Menescal, que estava em Brasília para reunião com o Ministro Jarbas Passarinho, foi levado para interrogatório pela Polícia Federal no aeroporto de Brasília, suspeito de tentar sequestrar um avião. É uma história engraçadíssima, mas ao mesmo tempo revela o perigo daquela época em que você podia, sem motivo algum, ser visto como subversivo e acabar preso ou morto. Há passagens interessantíssimas no livro, e não posso deixar de citar a história que Menescal conta sobre uma gravação que Mick Jagger fez com músicos brasileiros nos anos 1970.
SERVIÇO
Data de lançamento: 27 de novembro de 2012, às 17h
Local: FNAC Pinheiros
Endereço: Praça dos Omaguás, 34 – Pinheiros, São Paulo
Tel.: (11) 3579-2000
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Parabéns Bruna, Show de bola .
| micheli machado
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